domingo, 28 de outubro de 2012

E sobre sentir-se só, eis aqui outra constatação

Dia desses trombei com a saudade. Falava aos montes, me contava os defeitos nas mãos e quando me olhava, compassava os meus maiores medos com os olhos. 

- Aceita que falta pouco. Tempo quando tem sentimento descompassa tudo.

E me apontava os ponteiros imaginários, me apontava o coração. A tristeza é armadilha. Porém, também é parte do amor. Se molda de acordo com a ocasião e o número de palavras trocadas naquele dia.

Olha, meu bem, as coisas não são assim, elas não se movimentam mais assim. Porque os minutos, eles não dizem nada. E se a saudade não pagar a conta, eu não quero mais ela por aqui, não. Aliás, não tô com pressa, mas não tardo em ser feliz. Sou pontual quando vejo aqueles dentes sorrindo pra mim. Coração dos outros é mesmo terra que ninguém anda. Mas deixei a chave na portaria pra ti. Aliás, tem uma reserva, debaixo do tapete.

E sobre sentir-se só, eis aqui outra constatação: O mar é azul escuro, bem escuro, bem frio. Fico maré alta, longe de você. 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Hoje foi muito parecido com ontem


Hoje foi muito parecido com ontem. Talvez, hoje, seja bem parecido com terça passada, também. Comprei pão, passei pela esquina. Vendia-se uma casa. Um cachorro latia e um carro buzinou para a rua vazia.

Hoje lembrou quarta e quinta. E de tão parecido com ontem, me dei conta de que tinha companhia em quase todas as noites da semana passada. Hoje foi um dia muito parecido com amanhã, certamente.

Hoje tive muitas saudades suas, não soube conduzir o pensamento e acabei lembrando de você novamente. E do teu peito, repouso do meu sono
. Pensei em você e em tudo que ainda tenho pra perder e o outro tanto que vem por aí. Hoje falei demais. Mas não adianta, se engana brutalmente quem pensa que existe correlação entre amor e maturidade, meu bem. A gente segue a lógica do arrependimento pra não tropeçar e não morrer de orgulho.
A fuga se afogou num copo de chá de pêssego com gosto de boldo.

Hoje talvez tenha mesmo sido terça passada, com sorte será sexta ou sábado. No fim tudo se adapta e se arrasta novamente ao habitual.

E como eu era sem você? Não lembro, não lembro mesmo, prefiro pensar se hoje é terça, que pra almoçar tinha feijão, que amanhã será quarta e choverá a tarde toda, e depois virá quinta, e se eu puder, chegarei até sexta.
Hoje foi engraçado ver o quanto arrepia a brisa e que a gente vai ficando velho e aprendendo a esperar cada vez menos, e constatando que ainda assim, todo mundo sente medo.

Hoje foi mesmo semana passada. A minha postura é errada, a cadeira balança e me engole sem ter opção. Acho que é domingo dentro de mim.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A primeira vez em que ouvi falar dos teus olhos.


Da primeira vez em que ouvi falar dos teus olhos, te achei meio esquisita.
Maria disse que tu era perturbada, meio petulante e que tinha olhos que faziam qualquer menino no auge da minha idade se perder e ficar feito idiota. E eu, moleque, curioso, criado aos pontapés divinos, de rosto pintado de asfalto, a ouvia e guardava cada detalhe dos olhos que não deveriam ser mirados de jeito algum.

Fui cuidadoso. Passava pela tua casa como o diabo foge da cruz e evitava cruzar o teu caminho – e se o fazia, a reza era grande e os olhos sempre mirados no chão.


A verdade é que no final das contas, numa tarde dessas aí, tu perguntou as horas pra mim, daí te olhei nos olhos e, frágil como uma cristaleira, ruí. Porque ali já era amor. E os teus olhos, no final das contas, deveriam ser admirados pelo menos seis ou sete vezes ao dia.
Às vezes a gente se pergunta – e sempre que a gente se pergunta nunca vai saber a resposta. E teus olhos dizem demais. Não ligo se a resposta for silenciosa.

Pelos teus olhos arrasto um bonde se precisar. Pelas esquinas, não se fala de outra coisa. Me chamam de esperança, me gritam “corajoso!”.
Porque a ansiedade aumenta sempre que imagino você admirando as samambaias nas varandas azulejadas, achando graça nas trepadeiras escalando as paredes do bairro. E que falem. Desde que Garibaldi amou Anita, tudo é novo, tudo é sublime.

domingo, 10 de junho de 2012

Rodopio

ainda que escutasse uma rádio popular,
uma canção sem poesia,
acharia bonito ver você cantar

te chamaria pra dançar
ao som de Chico ou um bolero,
tropeçaria no meio,
só pra tu me ensinar

não faz cerimônia,
me bagunça
não tenha premissa e nem compromisso
bota logo um Glauber Rocha na agulha pra tocar

a minha menina vê metáforas em coisas simples
e nem sabe que enriquece o meu enredo
meu gingado, cadencia o meu desfile

minha menina sabe sorrir
não sei da tua,
mas a minha aprendeu a sorrir
antes mesmo de aprender a falar

guarda meu lugar aí
no cobertor embolado,
que eu faço o tempo passar rápido
pra ficar logo do teu lado

com o perdão dos trocadilhos musicais,
bota o teu sapato mais bonito
me tira um riso, me leva pra dançar
rodopia
bota outro disco na agulha pra tocar

domingo, 27 de maio de 2012

Vamos supor que isso seja sobre você


E vamos supor que o teu caminho seja para o lado de lá e que o meu seja para o lado direito, que é o lado que eu sempre durmo e é a mão com que escrevo. Pediria informação só pra chegar até a esquina do teu destino e me perderia em alguma rua perto da tua.

Vamos supor que eu talvez tocasse a sua campainha, porque daí nós subiríamos e tomaríamos uma xícara de chá. O teu porteiro me cumprimentaria e você chamaria o elevador. 
O silêncio, o beijo. O seu andar.
Esquisito isso de querer sempre mais, de querer sempre seis vezes mais te ver. Esquisito, acho até bonito. Eu sempre tenho tanto pra te dizer, tenho tanto pra contar. Eu sou uma planilha.


Palavras, do lugar de onde venho, não saem de graça. E eu, que falo tanto sem parar, quando me empolgo. Você sabe. Vivo remendando e cobrindo os olhos a cada frase sem sentido que solto. Desculpa se eu desando. Mas não importa, você sempre ri. E suspira dizendo que eu sou engraçada e que não existo. 
Desculpa a minha latente elevada de breguice, mas você, moço, você pra mim é a poesia mais bonita do Gullar, a música mais bonita dos Stones, as melhores lembranças de algumas horas atrás, as melhores coisas que me acontecem nas terças, quartas e finais de semana. Faz de conta que não percebe essa confusão que são os meus pensamentos, esses silêncios que fincam as minhas sílabas e que sempre te deixam intrigado. Mas e os meus sorrisos, não te dizem nada?

Você também sente vontade de correr e abraçar tudo isso de uma vez, pular essa faixa? Se sentir, não deixa isso passar. Não me deixa fugir de você.
Desculpa esse meu jeito avoado, desculpa se faltar um pouco de canela em mim, mas é que eu sempre acabo me punindo com os meus devaneios.
E tem essa vontade de ver. Meu inconsciente te chama, e eu tento dizer a ele que já vai, que já vamos nos falar, mas ele não entende. Céus, o meu coração é leviano.

Nós somos um carrossel humano, nós somos madrugadas, nós somos tão completos um para o outro. Nós somos a música que faltou, somos as lágrimas que derramamos todos esses anos por seres infelizes que nos prepararam para aquele trinta de novembro. Você pegou na minha mão e não soltou mais.

E justo eu, que sempre achei tão bobagem essas garotas que escrevem coisas sobre pessoas específicas e ficam postando por aí. Eu vivo me punindo. Fico em desvantagem.
Mas deu um bom texto. Eu achei bonito. Porque é tudo verdade. E eu vou postar com vontade de apagar, com vergonha de falar mais do que deveria, de exagerar nas linhas e no constrangimento.

Mas vamos apenas supor. Vamos apenas supor que isso seja sobre você.


domingo, 20 de maio de 2012

Domingo


Minha cor favorita é azul. Azul marinho, na verdade. Já foi verde, mas hoje em dia verde me faz ficar deprimida. O meu quarto é verde.

Gosto de lugares pequenos e cores de paredes escuras. De chãos corridos de madeira e do barulho que meus sapatos fazem quando piso neles. Eu também gosto muito de sapatos. Menos daqueles que machucam o calcanhar. 


Gosto de cortinas com cores claras e do movimento que elas fazem quando o vento as toca. E de livros. E de bibliotecas. Eu gosto de estantes lotadas. Tenho muitos livros, apesar de já ter lido bem mais. 

Minha mãe era artista plástica mas hoje só manda eu ir arrumar o quarto. Sou muito parecida com ela, apesar de não mandar e-mail pra ninguém com apresentações de slide enormes. Eu checo a minha caixa de e-mail pelo menos cinco vezes ao dia e nunca recebo nada além de anúncios de promoções de lojas que nunca ouvi falar e de passagens aéreas.

Eu também gosto de coisas antigas. De ouvir músicas tristes de outras décadas. Esse clichê babaca que pelo menos todo mundo passou a ter depois de assistir 500 Days of Summer.

Odeio domingos. S
eguindo a logística que aprendi com Jorge Ben, domingo é boa data pra se apaixonar, porque domingo é sinônimo de amor também. Domingo é parceiro da preguiça, de postura torta e errada, de comer mais do que se deve e de aturar aquele tio chato que sempre aparece do nada gritando que foi gol do Palmeiras.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

De saudade, verde fiquei

Estranho, nem faz tanto tempo, só uns meses. Apenas alguns meses desde a última vez em que o pé de amora do colégio estivera carregado de meninas sedentas pelo doce colorido das frutas pequeninas.

Gritavam de felicidade e excitação apoiando-se umas nas outras, sacudindo de forma desastrada os galhos da árvore, como se aquilo fosse o maior feito de suas vidas. As mais medrosas e pesarosas não se arriscavam, assistiam tudo em terra firme, encorajando as catadoras de amora com pequenos pulinhos e tapinhas em seus tornozelos.

Era um sistema. Caçavam as melhores e carnudas. Queriam as do topo, roxas avermelhadas, maduras. E ficavam apenas na vontade, contentando-se apenas com as pequeninas e azedas.

A alegria matutina durava até a inspetora aparecer no topo da escada principal, com o seu olhar carrancudo apitando para as garotas descerem dali. Responsabilidade do colégio. “Parecem moleques”, gritava.

Era tudo diversão, ainda assim. Triste pensar que era rotina, tudo isso. Os risos, 
os cafés, as idas até o pátio central para largatixar. Era constante. Nós éramos criaturas sinceras. As horas exercem nos acomodados uma espécie de inércia desavisada. É triste.
É abril, mas ainda cantamos as músicas de novembro. E toda vez que passo pelo pé de amora solitário e nu, apoiado ao muro amarelado do colégio, suspiro. Suspiro abrindo as portas dos pulmões. É que se aquele muro falasse, ele falaria de saudade. Ele faria uma síntese dos esbarrões que a vida nos dá e do quanto cada uma das catadoras de amora mudou naquele novembro quente. Um dia a gente se esbarra. Ainda não é época de fruta no pé. 

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Bonito, descobriu o sentido na vida e eu muitos em você


E te guardo em minha luneta. Onde teus sorrisos ficam seguros e os teus passos mais largos. Guardo e fico no aguardo dos nossos encontros serem constantes, porque quero ouvir as tuas histórias quando tiver vontade, quando achar necessário, sem o receio de pensar que é cedo ou tarde demais pra você. Desculpe a ousadia, mas nunca fui pontual.
Eu te apresentei aos meus pintores surrealistas favoritos, e aos compositores pobres e sofridos que habitam o meu inconsciente. Eles me visitam todas as noites. Você já se tornou um velho conhecido deles. O prazer é todo nosso.

Assim que te vejo sumindo escada abaixo, junto com tudo o que representa pra mim, minhas sensações se dividem em saudade imediata e felicidade por ter tido sua companhia até aquele último minuto. Paciência.

Quando eu era mais nova, bem mais nova, uma menina de aparelho que sentava esparramada no chão da locadora pra decidir o que assistir num sábado chuvoso, imaginava se algum dia encontraria alguém especial pra mim. Se ia namorar, casar. Ter um divórcio como o dos meus pais. Engraçado. Eu nunca te imaginei.
Desculpa, eu falo demais. Eu já deveria ter aprendido a me calar, mas todo mundo sempre diz pra eu não me fechar. Faço isso porque tive medo de nunca mais abrir os meus olhos, de não ser mais a mesma, de não querer mais nada, tive medo de ficar vazia, de ficar no escuro, ou de acabar ficando claro demais. E se a lógica não quiser me acompanhar, eu me atiro ao mundo, falo tudo até acertar. Mas só se você for junto. Na mala, trancada, pra você nunca fugir de mim.


Nos quatro primeiros passos, a gente prende o fôlego e dá a cara à tapa.
Eu quis dar meia volta e me esconder, já que a minha decadência não é nada charmosa. Mas eu não fiz isso. Ainda bem.

Com o perdão de todo o meu senso piegas, esse é um texto de uma garota que mora numa travessa da Santa Inês, que demora onze minutos pra chegar ao metrô, e que foi criada por Law&Order e purê de batata. Devaneios mil, você os entende. Bonito, descobriu o sentido na vida. E eu muitos em você.

domingo, 11 de março de 2012

Sobre garotas

Todas as garotas desabam. Todas são torres que se escondem por entre máscaras emprestadas por soldados que perderam o orgulho, tornando-se assim, mais frágeis do que os músculos de um homem realmente podem suportar.
Todas as garotas desaguam por entre rios que acabam por cobrir toda a áurea além de seus cabelos. Todas nós choramos. Todas choram. Gostamos do estrago, da explosão e de todo o vermelho que faz parte da corrosão que nos afugenta. Tudo acumula, pesa. Há angústia por entre cada cílio e sorriso malicioso que soltamos. E vamos todas para o inferno por pensarmos demais.

Da oitava vez, eu me encontrei, assim, sem querer, tentando achar graça nas coisas que eu mesma dizia. Eu quis tentar provar que o céu é azul para poucos e que a febre por um mundo melhor só está presente nas músicas do Pink Floyd. Eu tentei. Nós, garotas, tentamos, também.

A cidade tem cheiro de churrasco e os discos não são mais os mesmos que os daquele ano. As pessoas mudam de endereço, o tempo gira, a roda aumenta. Aumenta. Nós todas sentimos saudades. O ventilador acompanha cada pensamento e limpa cada mancha da minha agitação cotidiana. Eu deixo levar, lavar. Já vai tarde. Existe um silêncio que só acontece para aqueles que sabem ouvir.

Garotas não sabem nada sobre blues tristes e pincéis sujos de tinta. Mas, deveriam. Os minutos passam, eu conheço o final do trajeto.
Esquisito isso, das palavras fugirem, de fugirem os problemas,
os compromissos, meu passado não te importa, nem me importo com o seu.

Nunca fui de medir palavras, mas agora aprendi a medir até as vírgulas que separam os trilhos riscados das dez estações que enfrentei, e tive também os cinco primeiros minutos em que esperei como motivo para desistir e recuar as dez estações atrás. Todas as garotas mudam de ideia. Todas sentem medo. Todas procuram um lugar para se esconder daqueles que as intrigam. Todas as garotas querem ficar, permanecer.

E não importa onde, mas, você vai nos achar. Seja em algum banco de praça, ou dentro de alguma pintura do Dalí, na Lua, não importa. Nós vamos guardar o seu lugar no banco do passageiro e esperar até o fim dos últimos acordes daquela música esquecida através dos risos de figurantes. Está reservado. 

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Aquário


Passava horas olhando para além daquela enorme superfície cristalina.
Batia no vidro, vez ou outra, como se quisesse confirmar, com o seu toque infantil, que existia vida além daquele conjunto de monotonia. E conseguia, algumas vezes, sinais dela.

Acabava por sentir-se parte daquele todo. Dos peixes, das luzes que a água refletia desastrosamente e até mesmo das pequenas bolhas que dançavam, pelo vidro, a convidando para um universo que não lhe era palpável. Era tudo vida.

Não satisfeita, novamente dava pequenas palmadas no aquário, na tentativa de agitar a água e desarrumar toda aquela sintonia de cores. Queria desalinhar aquele mundo tão particular.

O vidro permanecia no lugar, porém, os elementos não suportavam os pequenos golpes. Por segundos, faziam-se diferentes, estranhos, para depois voltarem aos lugares que os pertenciam e lhes eram de direito, antes de tudo desandar.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sete palmos de terra


Você tinha vida demais, Helena. Chegava até a me confundir com tal nível de entusiasmo. Era difícil de te acompanhar. E a saudade, essa saudade que me acompanha, me presenteia com cada traço teu no retrato. Traços estes que migraram  para o contrário dos nossos planos.
A gente só repara que o tempo passa entre um recordar e outro, olhando pela janela do carro. E com você foi assim. Notávamos, dia após dia, rugas nas nossas vozes. E você sempre falou aos montes. Sempre rasgando o silêncio, que não te pertencia. E eu gostava tanto e tanto. Gostava ainda mais quando finalmente silenciava e me olhava, compassando meu futuro com os olhos.
Parece que você não cicatriza nunca, Helena.

Eu vivo com esse receio do seu perfume voltar pros lugares de antes. Convivo com a vontade fixa de ver pelo menos mais uma vez o teu vestido caído no assoalho do quarto, numa daquelas tardes de verão.

Ah, Helena, eu queria. E quero.

Olha, mesmo você estando a sete palmos do chão, ainda te considero minha. E ainda te acho bonita. Bem bonita. Tão bonita que eu compraria um bilhete de trem e acenaria até o fim da plataforma, até o fim de mim, só pra te ver ali, Helena, no aguardo, se corroendo com a injustiça de estarmos separados.
Uma vida inteira nos separa. Um resto dela, na verdade.
Tudo perdeu a graça sem os teus corinhos pela casa, meu amor. Nada tem cor após o teu monossilábico adeus. Os cinemas parecem cheios demais, os cantos dos pássaros ficaram repetitivos e todas as mulheres perderam as curvas.

É tempo de esperar, afinal. Juntar os dias que me faltam e aguardar a minha partida. Por você tenho acreditado que há algo além da vida, do céu, do espaço, ou do raio que o parta. Tenho me iludido com isso só para ter a certeza de que vou ter a chance de me eternizar ao teu lado, Helena.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Olhos

Você apareceu nos meus sonhos. Citava alguns versos tristes e mudos, mas ainda assim, versos. Quase não o reconheci, também. Culpa dos olhos. Grandes caleidoscópios que acabaram por tomar o lugar do castanho habitual.

Eu tentei te escutar, atenta, como se a ausência de som não fosse empecilho para tanto. Eu gosto do silêncio. Você sabe.

Falou-me da Lua. A Lua. E do quanto estrelas não gostam de noites frias de junho. Pontos luminosos, deixou por assim chamar. Pontos luminosos não gostam de noites frias de junho.

Era simples. Inconcebível, até tal ponto. E posso dizer que aproveitei todas as minhas preocupações, porque ali, elas não existiam.
Era tempo de livrar-se dos filtros, nadar contra a correnteza. Não foi fácil.

Nos espremíamos para caber nas entrelinhas, e estas, não nos pertenciam. Entrelinhas asfixiam, são perigosas.

Eu vi os caleidoscópios perderem os tons, as cores. Séculos passaram por nós dois, sem licença alguma. Cada pedaço inacabado meu quer tentar fazer sentido pra você. Te remonto, mais algumas vezes, girando mais do que qualquer coisa que gira bastante. Os grandes caleidoscópios parando, perdendo novamente a cor, tomando forma. Eu quis entender o que eles queriam dizer. Girando e girando. Quis pedir para deixarem recado, escreverem um bilhete, mas teus olhos não eram mais os mesmos.

A chuva passou. Os séculos, também. Era tarde demais. Acordei um pouco tonta, entre um tropeço e outro, tentando encontrar algum sinal das cores dos teus olhos por ali.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sobre textos em branco.

Eu tô tentando dar um jeito de não falar sozinha. Essa é a real função dos blogs, acho.
Mas anda foda. Difícil com, ou sem temas. O meu cérebro trabalhava melhor durante aquelas madrugadas de Hey Arnold e Space Ghost. O Zorak me entenderia. Ele é o único, já que o meu caráter acabou sendo construído por meio das falas e bordoadas daquele inseto verde e gigantesco tão cheio de sarcasmo. Não sou sarcástica. Aliás, por que ele é daquele tamanho?
Isso poderia ser sobre Miami Vice e os ternos roxos que eles usavam. Porra, eu sairia com o A
mie Foxxx. Ele sim.


Poderia ser sobre o quanto o Steven Seagal odeia meliantes. Queria que isso fosse sobre o sorriso do Mark Hamill e a quantidade de adornos que eu colocaria nele. Por que o tempo precisa passar para essas pessoas? Por que a Molly Ringwald precisou engordar e ficar velha? Porra, então, o Jake de Gatinhas e Gatões teria papada, se realmente existisse?

Isso aqui poderia ser uma tese sobre a pancada de filmes que o Hughes faria se ainda estivesse vivo e sobre o quanto odeio parecer repetitiva com os meus textos.

Queria que vocês parassem de me olhar torto quando digo que acho o Morrison um chato. Que todas as garotas parassem de fingir que gostam de quadrinhos, quando na verdade, não sabem dizer sequer um episódio de Star Wars. Quando foi que isso ficou assim? E por que os caras preferem as vadias? Como essa cadeira veio parar aqui? Isso não é problema meu.
Queria ter nascido o Ney Matogrosso, só que heterossexual. Porra, eu queria ter temas. Queria o Ozzy ganhando um Nobel e fazendo algum cover dos Beach Boys.


Eu não sei. A vontade de escrever era grande. Descartem isso. 

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dá teu riso pra mim


Eu gosto de um menino
Que fala bonito
Tão bonito
Que me deixa assim
Sem palavras
Miúda
          e calada.

Eu faço versinhos
Pra ele
E canto corinhos
Que o guri nem nota
Sempre vai embora
E me deixa só
Por minha conta.

Queria te dizer
Menino dos olhos
Que eu escrevi as iniciais tuas
No muro da minha casa
E na agenda
Pra dar sorte.

Desculpa o mau jeito
Mas teu sorriso
É tão bonito
Fico na espera
De um riso
Destinado a mim
E mais ninguém.