sábado, 26 de fevereiro de 2011

Destinatário: nosso primeiro beijo



Beijo,
Você aconteceu de uma forma totalmente inusitada. Você é único, o primeiro.
Não o primeiro da minha vida. Antes de você, alguns outros acabaram acontecendo.  Preciso dizer que estes – Os Alguns – não tiveram tanta importância assim. Não a mesma que você. Falando sério.

Não sei se foi o gosto de cerveja e tabaco, mas alguma coisa te tornou especial. Como se você já não soubesse. Na verdade, tem muito a ver com a forma inesperada em que os nossos lábios se encontraram tão repentinamente. Os meus e o dele. Os dois tão confusos.
Mas ainda assim, você aconteceu.

E as minhas pernas viraram gelatina, fraquejaram. Meu coração parecia não ter espaço para bater dentro do peito. Arrebentava cada ventrículo e cavidade – e por um breve instante até pensei que teria uma taquicardia, ou que cairia dura. Não seria novidade. Não pra mim. Não mesmo.
Mas acho que a felicidade não deixou que isso acontecesse.

E a forma como as mãos dele foram parar nas pontas das mechas do meu cabelo, as bagunçando, também. Eu nem sei por que estou escrevendo isso, na verdade. Acho que é só para você saber, pela enésima vez, que eu nunca vou ter outro desses, outro de você.

Essa menina arrogante e estranha conseguiu finalmente entender o significado de todas aquelas narrativas sobre os tais beijos, todas aquelas cenas apaixonadas de filmes dos anos 50 onde você estava sempre presente: as garotas costumavam levantar a perna direita e passar os braços pelas costas do amado, e este, apenas retribuía a abraçando com carinho e ternura. Como se ela fosse uma peça de vidro. Tão frágil.

E depois, os casais sempre se olham e sorriem satisfeitos, com a música e os créditos subindo pela tela, anunciando o fim e o famoso “felizes para sempre’’. Confesso, que antes de você, tudo isso me parecia total balela. Tão inexistente. Todas aquelas matérias que minhas primas e amigas liam na pré adolescência, e os treinos com a maçã e o gelo… desnecessário comentar isso aqui.
E o fôlego faltou, e no fim, fim de você, eu jurei que escreveria algo sobre isso.
Algo sobre o quanto eu me senti a maior boba do mundo e depois fiquei horas dançando e gritando de felicidade com as minhas amigas, por ter conseguido sentir borboletas elétricas no estômago.

Cheguei em casa na manhã seguinte fora de mim, tão feliz, tão outra. Só não beijei os vizinhos, carteiro e minha mãe, porque daí minha loucura seria comprovada.
Mas você me fez – e ainda me faz – feliz até hoje.
E na verdade, não posso mentir para você, mas esse efeito tão seu ainda se faz presente quando nós dois estamos juntos.
Minhas pernas ainda fraquejam.
Ah se fraquejam.
E eu me sinto meio retardada.
Mas primeiro dos nossos – meu e dele, ele – só você.

domingo, 6 de fevereiro de 2011



Herói, não é fácil te ter longe. Você se foi muito cedo. A vida foi egoísta e só me deu um pouco de você, e tão de repente te tirou de mim. Mas eu precisava – e ainda preciso – de ti.
Sabe vô, não tem sido fácil pra ninguém aqui de casa. Principalmente pra mim. Eu perdi o cara da minha vida, o meu chão.

Eu sinto falta da sua mania de me mimar e dizer que eu era sua reclamona. Das suas brigas com a minha mãe só por causa dos doces que sempre me trazia, de você indo me buscar na escola, ou das vezes em que levava eu e o Marcelo lá pra feira da Calixto para mostrar pra gente o valor das coisas, mesmo que antigas.

Acho que foi daí que tirei o meu gosto por tudo o que é velho. Muita coisa me lembra você. Elvis me lembra teu jeito despreocupado. Mar. O Marcelo. Passarinhos. Tom Jobim. Relógios. Sorrisos largos. As coisas da vó. As minhas bonecas e chimarrão.

Quando você descobriu que estava doente, eu pensei que era só gripe, que ia passar. Você ficou magro, tão fraco. Justo você, que sempre foi tão forte. Fiquei sabendo que a coisa toda era mais grave quando o seu cabelo todo caiu e quando a vó voltou do hospital com aquela história de que ficaria lá com você por um tempo.

Muito tratamento, muito remédio.

E ainda assim, eu ia te visitar, conversar sobre Mortal Kombat e ler pra você as histórias que eu tirava da minha cabeça e escrevia, dizendo que um dia virariam livro. Mas na páscoa, você deixou a gente.

A vó chorou muito, e desde então, eu tenho tentado preencher o seu vazio pra ela. Apesar de saber que é impossível. Mas eu tento.
E cadê você pra poder dizer que vai ficar tudo bem? Pra me levar pra Calixto. Pra cantar Caetano pra eu dormir? 
São coisas que eu queria poder passar com você do meu lado.

Eu vou dizer agora o que eu queria ter dito na hora que pude. E não consegui dizer. Você foi o melhor homem que eu já conheci. Quero que saiba que sempre te sinto por perto, e que ninguém nunca vai preencher o seu lugar. Eu tenho um orgulho imenso de você, da sua história. Cada conquista que eu conseguir vou agradecer e dedicar a você. Um dia, espero te reencontrar. Nove anos já se passaram, mas não superei e nunca vou superar a sua morte. Segue em paz.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Você é um idiota


É toda aquela coisa de tentar te procurar em outras pessoas. Aprender a ficar sem as suas ligações no meio da noite. De entender que acabou. É toda aquela coisa de não ouvir a sua voz pelo menos três vezes ao dia. De não ter mais pra quem contar sobre o meu dia e os meus projetos.

É toda aquela coisa de tentar não tentar mais. De deixar pra lá. Esquecer.

Eu gosto de você. Eu gosto tanto e tanto. Não quero você longe – além dos quilômetros ,  eu não quero ninguém além de você rindo das minhas piadas sem graça e me chamando de boba por me achar desastrada demais.

É toda aquela coisa de dizer o que eu não quero dizer. De fazer o que eu não quero fazer. Mas que infelizmente precisa ser feito para o meu próprio bem.

É toda aquela coisa de precisar te ver com outra pessoa. Um alguém que vai poder ver sempre o seu sorriso e que vai poder te abraçar sempre que quiser.
Desculpa, eu não vou mais escrever sobre isso aqui.
Ai ai.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Da minha sorte pra sua



Coço a cabeça, aponto o lápis uma, duas, três vezes adiando o encontro entre papel e caneta, mágoa e soluços, você e eu, minhas ideias e a perda de tempo.

Daí olho para o ventilador, penso na cor do teto e fico lembrando de algumas das suas histórias enquanto puxo alguns fios – de saudade – da coxa da minha cama. Você e eu, a gente poderia ter feito tudo diferente.
Pego outro caminho, ido pelo outro lado. Evitado.

Eu queria entender porque você só me confunde. Confundia. Porque agora você me colocou no seu pretérito imperfeito junto com todos os nossos encontros imaginários. E eu não gostei disso.

Só que você muda de ideia e se arrepende e isso vamos encarar, é uma merda.
Chega de jogar o dado pra decidir a sua vida. Chega de ficar se perguntando se a solução está ou não na alternativa a) ou b).
A vida não tem fórmula e infelizmente, pode ser difícil de ser vivida para uns, e bem fácil para outros. Aqueles que sabem sorrir, acho. Você não é um deles.