domingo, 6 de fevereiro de 2011



Herói, não é fácil te ter longe. Você se foi muito cedo. A vida foi egoísta e só me deu um pouco de você, e tão de repente te tirou de mim. Mas eu precisava – e ainda preciso – de ti.
Sabe vô, não tem sido fácil pra ninguém aqui de casa. Principalmente pra mim. Eu perdi o cara da minha vida, o meu chão.

Eu sinto falta da sua mania de me mimar e dizer que eu era sua reclamona. Das suas brigas com a minha mãe só por causa dos doces que sempre me trazia, de você indo me buscar na escola, ou das vezes em que levava eu e o Marcelo lá pra feira da Calixto para mostrar pra gente o valor das coisas, mesmo que antigas.

Acho que foi daí que tirei o meu gosto por tudo o que é velho. Muita coisa me lembra você. Elvis me lembra teu jeito despreocupado. Mar. O Marcelo. Passarinhos. Tom Jobim. Relógios. Sorrisos largos. As coisas da vó. As minhas bonecas e chimarrão.

Quando você descobriu que estava doente, eu pensei que era só gripe, que ia passar. Você ficou magro, tão fraco. Justo você, que sempre foi tão forte. Fiquei sabendo que a coisa toda era mais grave quando o seu cabelo todo caiu e quando a vó voltou do hospital com aquela história de que ficaria lá com você por um tempo.

Muito tratamento, muito remédio.

E ainda assim, eu ia te visitar, conversar sobre Mortal Kombat e ler pra você as histórias que eu tirava da minha cabeça e escrevia, dizendo que um dia virariam livro. Mas na páscoa, você deixou a gente.

A vó chorou muito, e desde então, eu tenho tentado preencher o seu vazio pra ela. Apesar de saber que é impossível. Mas eu tento.
E cadê você pra poder dizer que vai ficar tudo bem? Pra me levar pra Calixto. Pra cantar Caetano pra eu dormir? 
São coisas que eu queria poder passar com você do meu lado.

Eu vou dizer agora o que eu queria ter dito na hora que pude. E não consegui dizer. Você foi o melhor homem que eu já conheci. Quero que saiba que sempre te sinto por perto, e que ninguém nunca vai preencher o seu lugar. Eu tenho um orgulho imenso de você, da sua história. Cada conquista que eu conseguir vou agradecer e dedicar a você. Um dia, espero te reencontrar. Nove anos já se passaram, mas não superei e nunca vou superar a sua morte. Segue em paz.

2 comentários:

  1. “(…) ou das vezes em que levava eu e o Marcelo lá pra feira da Calixto para mostrar pra gente o valor das coisas, mesmo que antigas.
    Acho que foi daí que tirei o meu gosto por tudo o que é velho.”
    “E cadê você pra poder dizer que vai ficar tudo bem? Pra me levar pra Calixto. Pra cantar Caetano pra eu dormir?” – bom, tudo bem que eu adorei mais um monte de trechos, mas vamos lá, rs…

    Nossa, sério… Que lindo tudo isso. E se um dia vier a virar livro, fique sabendo que eu vou adorar ler esse aí, viu?!
    Enfim, se cuide, Lollyta… Um beijo e outro abraço!
    E uma obs.: suas histórias fazem eu criar as cenas das situações, que demais isso, rss.

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  2. Sabe, eu fiquei com vontade de ler alguns textos e passei por aqui. E comecei a ler.
    Você ‘dizia’ tudo com tanta sinceridade, com tanto amor em suas palavras que não pude não me emocionar, de verdade. Lindo. Com tantos momentos tão bons como os que você contou, imagino o quão ruim foi a dor de quando ele se partiu. Ainda não perdi ninguém tão próximo de mim, mas eu sei que isso não será para sempre. E eu nem quero imaginar esse dia ):

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