sexta-feira, 29 de abril de 2011

Joana


Fazia tempo que Joana não voltava pra casa. Já não dava para contar nos dedos quantos meses estivera fora.

Joana, Joana.

Joana de sorriso tão bonito e cheio de inocência resolveu ir embora sem se despedir. No começo, a estrada foi divertida - o novo que a excitava, cutucava e convidava.

Virava cervejas e cervejas até se sentir satisfeita, e depois corria com seus trapos para não precisar pagar a conta. Seduzia os marmanjos com teu olhar tão confortável, e então dava o fora com falso nojo, desfazendo dos pobres.
Muitos foram os que caíram nas armadilhas da menina moça. Marinheiros, escritores frustrados em busca de musas, artistas de circo. Todos amavam Joana. E Joana amava todos igualmente, nem que fosse apenas por uma noite.

Prendia os cabelos com um laço de fita e passava com cuidado o toco de batom vermelho-sangue que roubara de uma cigana linguaruda. Joana sorria pro espelho. Todo dia sorrindo para um espelho diferente.

Mas Joana, entre um cigarro e outro, decide que é hora de voltar. A Joana dos marinheiros, a Joana que trepa, que engana. Essa aí, essa outra, é outra mulher. Não é nossa Joana. Essa nossa, percebeu que foi um pouco longe demais, sentiu saudade dos olhos da mãe e das birras dos irmãos mais novos.

Não que todos tivessem a esquecido – longe disso, ninguém nunca a esquece -, mas será que teria coragem de largar toda a vida, toda a liberdade? Cada noite em um lugar diferente. Abandonar o novo.

Ela estava pensando nisso quando tocou pesarosa a campainha. Ela pensou nisso até o fim dos seus dias. Joana, sempre Joana.