sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Olhos

Você apareceu nos meus sonhos. Citava alguns versos tristes e mudos, mas ainda assim, versos. Quase não o reconheci, também. Culpa dos olhos. Grandes caleidoscópios que acabaram por tomar o lugar do castanho habitual.

Eu tentei te escutar, atenta, como se a ausência de som não fosse empecilho para tanto. Eu gosto do silêncio. Você sabe.

Falou-me da Lua. A Lua. E do quanto estrelas não gostam de noites frias de junho. Pontos luminosos, deixou por assim chamar. Pontos luminosos não gostam de noites frias de junho.

Era simples. Inconcebível, até tal ponto. E posso dizer que aproveitei todas as minhas preocupações, porque ali, elas não existiam.
Era tempo de livrar-se dos filtros, nadar contra a correnteza. Não foi fácil.

Nos espremíamos para caber nas entrelinhas, e estas, não nos pertenciam. Entrelinhas asfixiam, são perigosas.

Eu vi os caleidoscópios perderem os tons, as cores. Séculos passaram por nós dois, sem licença alguma. Cada pedaço inacabado meu quer tentar fazer sentido pra você. Te remonto, mais algumas vezes, girando mais do que qualquer coisa que gira bastante. Os grandes caleidoscópios parando, perdendo novamente a cor, tomando forma. Eu quis entender o que eles queriam dizer. Girando e girando. Quis pedir para deixarem recado, escreverem um bilhete, mas teus olhos não eram mais os mesmos.

A chuva passou. Os séculos, também. Era tarde demais. Acordei um pouco tonta, entre um tropeço e outro, tentando encontrar algum sinal das cores dos teus olhos por ali.

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