domingo, 10 de julho de 2011

Foi-se, o circo

Mais um drinque para o senhor esguio.  E mais um tabefe para a senhora de vestido vermelho.
Piscadela tinha tudo certo e planejado desde os tempos de circo.
- Tempos bons, sim senhor. 
Pegava-se suspirando para cada cliente bebum que entrava pela portinha de madeira com cheiro de hortelã.
Já era de se esperar que Piscadela fosse acabar assim.
Dizia para as crianças do bairro que fora palhaço em tempos passados, mas os pequenos nunca davam ouvidos e mostravam-lhe a língua como sinal de desaprovação.
- Como pode? Palhaço sem circo! Sem nariz vermelho!
E então os ombros caíam e o sorriso murchava. Piscadela rimando com derrota.
Derrota que vinha junto com o riso de certa malabarista e luzes de picadeiro.
O coitado pintava o rosto todas as noites e chorava borrões de tinta. Lágrima por lágrima misturada com guache.
Levava a vida assim. Lavava a alma assim. E morreu no dia em que o circo retornou à cidade.

Simples e cru.
Não sou boa com finais assim.

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